O presente texto trata-se de um breve esboço sobre as fundamentações bíblicas
para o exercício (ministério, serviço) do diaconato na igreja.
1 - A instituição dos Diáconos
Apesar das divergências quanto ao fato
de Atos 6 tratar da origem do diaconato, por exemplo, Stott[1] afirma
categoricamente, seguindo Kelly[2]: “[...]
mesmo que Atos 6 não seja a origem histórica do diaconato”, seguiremos
Arrington, que comenta: “Lucas não usa a palavra ‘diácono’ (gr. diakonos)
para descrever os sete homens, mas as palavras para “servir” e “diáconos”
derivam da mesma raiz grega. 'Diáconos' são mencionados em
Filipenses 1.1 e 1 Timóteo 3.8-13. Assim, é apropriado usar este título para os
sete homens, sobretudo à luz do trabalho feito pelos diáconos em tempos
recentes (que incluía a manipulação de finanças, o cuidado pelos necessitados e
outros assuntos ministeriais práticos).”[3]Strong[4], Berkhof[5] e Thiessen[6] acreditam na possibilidade de Atos 6 tratar
da instituição do diaconato. Williams, comenta que: “Segundo a tradição, a
nomeação desses sete marcou o início desta ordem de oficiais (veja Irineu,
Against Heresis [Contra Heresias], 1.26; 3.12; 4.15; Cipriano, Epistles
[Epístolas], 3.3); Eusébio, Ecclesiastical History [História Eclesiástica],
6.43, mas o Novo Testamento dá ínfimo apoio à tradição.”[7] Vamos ao texto bíblico:
1 Ora, naqueles dias, crescendo o
número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus,
porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. 2 E os
doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós
deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. 3 Escolhei, pois, irmãos,
dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e
de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. 4 Mas nós
perseveraremos na oração e no ministério da palavra. 5 E este parecer
contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do
Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Pármenas e Nicolau,
prosélito de Antioquia; 6 e os apresentaram ante os apóstolos, e estes,
orando, lhes impuseram as mãos. (At 6.1-6, ARC)
1 Ora, naqueles dias,
multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas
contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na
distribuição diária. 2 Então, os doze convocaram a comunidade dos
discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus
para servir às mesas. 3 Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de
boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos
quais encarregaremos deste serviço; 4 e, quanto a nós,
nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra. 5 O parecer agradou
a toda a comunidade; e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo,
Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. 6
Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. (At 6.1-6, ARA)
- Boa Reputação (gr. martyrouménous):
boa fama, alguém de quem se fala bem, louvado, recomendável (esposa, filhos,
vizinhos, patrão, igreja, pastor, etc.)
- Cheios do Espírito (gr. plêreis pneúmatos): repletos, plenos do Espírito (c/ Ef 5.18). O termo “Santo” não aparece nas edições críticas da Vulgata e no N.T. Grego (27ª ed. Nestle-Aland). Pode estar implícito aqui o Batismo com o Espírito Santo (At 2.1-4), a manifestação dos dons do Espírito (1 Co 12-14) e o fruto do Espírito (Gl 5.22-25).
- De Sabedoria (gr.sophías):
habilidade, tato, bom senso, juízo sensato, experiência nas questões da vida
(Tg 1.5-7).
- Negócio (gr. chréias): trabalho, serviço, tarefa necessária. O termo “importante” foi traduzido na versão ARC para dar ênfase ao serviço.
2 – As Qualificações para o Diaconato
nas Epístolas de Paulo
8 Da mesma sorte os diáconos sejam
honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe
ganância, 9 guardando o mistério da fé em uma pura consciência. 10 E também
estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis. (1 Tm 3.8-10,
ARC)
12 Os diáconos sejam maridos de uma mulher e governem bem seus filhos e suas próprias casas. 13 Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus. (1 Tm 3.12-13, ARC)
a) Honestos (gr. semnous): respeitável, honorável, digno. Envolve condição interior e postura exterior.[8]
b) Não de língua dobre
(gr. mê dilogous): sem palavra, não de duas palavras, que tenha uma
só palavra. Que não muda de opinião por conveniência.[9]
c) Não dados (gr. proséchontas,
inclinados) a muito vinho: sobriedade.
d) Não cobiçosos de
torpe ganância (gr. aischpokepdeís): Uma advertência em relação às
tentações que poderiam ficar expostos na administração das esmolas, à assistência
aos pobres e às finanças da congregação em geral.[10]Paganelli comenta que: “A advertência de Paulo
não proíbe diáconos terem riquezas [...]. O problema reside no modo como tal
riqueza é adquirida [...]".[11]
e) Guardando o mistério
da fé (gr. mystêrion tês písteos): devem ter convicções ortodoxas,
pois “mistério” representa a soma total de todas as verdades reveladas da fé.[12]
f) Provados (gr. dokimazésthosan):
Experimentados. Apenas depois de uma triagem (exame) cuidadosa a respeito do
seu caráter, da sua conduta, e da sua adequabilidade, se mostrarem
irrepreensíveis (gr. anégkletoi, inculpáveis, não acusáveis),
devem ter licença para exercer o diaconato.[13] Andrade, apropriadamente adverte: “[...]
muitos pastores, não sabendo como provar, ou experimentar, os seus aspirantes
ao ministério, acabam por confundir as legítimas e bíblicas provações com
caprichos acintosamente humanos.”[14]
g) Maridos de uma mulher
e governem (gr. proistámenoi, liderem, dirijam, cuidem) bem seus
filhos e suas próprias casas: Stott, em seu comentário acerca de 1 Tm 3. 2,
cita cinco possibilidades de interpretação quanto a “maridos de uma mulher”:
(1) Os que nunca se casaram; (2) Os polígamos; (3) Os que se divorciaram, e
casaram-se de novo; (4) Os que tendo enviuvado, casaram-se novamente; (5) Os
que cometem o pecado da infidelidade no casamento. Não existe, nem mesmo na
perspectiva intradenominacional, unanimidade acerca da questão. Quanto a
questão de governo ou liderança, aquele que não é bom administrador de sua
própria casa, certamente reproduzirá os mesmos erros no trato com a congregação
(igreja local).
Conclusão
No que resultará o bom desempenho do
diácono em seu serviço? O texto de 1 Tm 3.13 é claro e enfático: “Porque os
que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita
confiança na fé que há em Cristo Jesus.”
Em primeiro lugar, o diácono que bem
servir alcançará para si uma boa posição. O termo grego traduzido por “posição”
é bathmón, e pode significar “degrau”, “grau”, “reputação”. A
versão de Almeida Revista e Atualizada traduziu por “preeminência”.
Kelly entende o significado de “boa posição” como: “[...] garantem que seu cargo, apesar do seu título modesto e da sua aparência de subordinação, seja um de influência e respeito na comunidade em geral.”[15]Sua ênfase está na reputação. Ele ainda afirma: “Uma exegese que se aceita de modo generalizado, portanto, refere a palavra aqui a um passo no ministério; Paulo está prometendo aos diáconos que, se servirem lealmente, podem esperar que serão promovidos para a posição de superintendentes. Embora este seja o significado da palavra em escritores e liturgias posteriores, parece fora do contexto aqui, e, de qualquer maneira, é improvável que qualquer coisa como uma escada precisamente ordenada de promoção eclesiástica estivesse em vigor no século I, ou até mesmo no começo do século II.”[16] Stott entende a ideia de “carreira” ou “promoção” como anacrônica.[17] Arrington, não descarta tal interpretação.[18]
Em segundo lugar, o diácono que bem servir alcançará muita confiança na fé. O termo grego para “confiança” é parresían, que pode ser traduzido por “liberdade de falar”, “intrepidez”, “ousadia”.[19] Tal postura pode ser exercida diante dos homens, na proclamação do evangelho, e diante de Deus, em se aproximar dele.[20]
Nenhum comentário:
Postar um comentário